terça-feira, 31 de maio de 2011

Delmar

Delmar Conde - Um estaleiro nacional

Decidi desta vez debruçar-me sobre um dos poucos portugueses que se atreveram a construir de raiz, embarcações à vela em fibra.
Se não estou em erro, apenas me lembro de nos anos 70 um estaleiro em Samora Correia ter construído uns quantos pequenos cruzeiros de 26 pés e uns anos depois, ali para a Abóboda (Concelho de Cascais) terem sido construídos os célebres “Sailmar” em número bem razoável e que, ainda hoje, muitos deles se mantêm a navegar.
Há uns vinte e tal anos, quando da minha participação numa prova denominada “Cruzeiro do Tejo”, organizada pelo Alhandra Sport Clube, apareceram a competir, uns dois ou três barcos estranhos, que ostentavam nas velas a sigla DC 600 ! Disseram-me que tinham vindo de Aveiro e eram ali construídos por um tal Delmar Conde que nem cheguei a conhecer na altura, apesar de estar presente, competindo nas suas embarcações.
Percebi no entanto que tinha um estaleiro naquela região e construía uns barcos com desenho feito por si próprio.


Uns anos mais tarde vim a saber que construiu um protótipo de 12 m com o qual participou numa Volta a Portugal à Vela, onde também concorri a bordo do Carioca. Apesar do barco não estar ainda bem desenvolvido, começou a situar-se nos lugares cimeiros de provas nacionais. Com sucessivos melhoramentos, esse veleiro evoluiu tanto a nível de casco como de plano vélico, apêndices, etc. e foi sem surpresa que passou a dominar os campeonatos nacionais em rating ANC, que normalmente se disputavam em águas de Portimão cada Verão.


Em 2006 participou no “Atlantic Meeting” (Lisboa - Madeira) obtendo um 1º lugar da classe e 2º da geral. Estive presente no acontecimento competindo no Mariposa e finalmente conheci o Delmar.


Em 2008, quando da realização do Triângulo Atlântico aos Açores, onde mais uma vez fui tripulante do Carioca, foi com grande satisfação que vi o “Porto de Aveiro/ Mike Davis” participar não só nessa prova, como ganhar também na classe Open, a Atlantis Cup lá nas ilhas!





Grandes momentos passámos juntos durante aquele mês de convívio e viagem pelo Atlântico!



O estaleiro tem-se adaptado, ao longo dos tempos, às necessidades do mercado e assim ao incorporar nos seus quadros os seus dois filhos, Renato e Gil, o Delmar passou a dedicar-se a outras actividades mais técnicas e menos à construção.
Exemplo disso é a preparação que tem feito no mini 6.50 e no Fígaro 2 do Francisco Lobato e que tão bons resultados tem tido em competição. Mais recentemente a intervenção e optimização nos TP-52 e noutras embarcações, têm-nas colocado a andar muito melhor do que quando saíram do estaleiro original !

Há uns dois anos tive oportunidade de me deslocar à Gafanha da Encarnação e visitar o estaleiro.

Para além de ser uma agradável visita em que revi esse amigo, pude observar dois veleiros em reparação e melhoramentos, bem como outra pérola sua que são os Vougas!

Não queria no entanto deixar de falar no que considero ter sido a embarcação de maior sucesso construída em Portugal.


A um nível de embarcações relativamente modestas em termos de veleiros de cruzeiro, projectou e construiu um pequeno veleiro que baptizou "DC-740".
Foram produzidas 46 unidades que navegam por várias zonas do país (a maior frota situa-se sobretudo na Ria de Aveiro) e até nos Açores, na Galiza, França e Alemanha!


Trata-se de um pequeno veleiro de cruzeiro com 7,40 m de comprimento, fabricado até 2005. Com um plano vélico tradicional, motor fora de borda, duas possibilidades de leme e patilhão (um fixo e outro móvel que recolhe completamente), é uma embarcação de manobra fácil para tripulação reduzida, adaptado para uma navegação local e um bom compromisso para quem se quer iniciar nas lides da navegação de lazer.

O salão, para além de um razoável pé direito, compreende uma pequena cozinha com lavabo e fogão de dois bicos, uma mesa central com asas rebatíveis e sofás de cada lado, que permitem uma refeição no interior para quatro pessoas. Possui uma casa de banho independente a BB, com duche, lavatório e sanita marítima.
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Possui uma boa habitabilidade, completada com um camarote à proa e um à ré a EB.

Nunca tinha dado especial atenção a esta embarcação até há umas semanas.
Acontece que o Paulo Nunes, que nos tem acompanhado nas regatas que realizamos no Carioca, adquiriu em 2ª mão há dois meses um exemplar de 2001, o “Old Navy”.
Trata-se da versão DC-740 GTE, o que quer dizer que é um dos de produção mais tardia e consequentemente mais “puxados” ! Tem um patilhão fixo, com um desenho típico dos anos 90, com um bolbo na extremidade inferior.

O leme foi bem pensado e tem um perfil curioso para um escoamento de água óptimo.


Como é evidente, o veleiro não é um regateiro porque para além de todo um interior muito bem acabado e equipado, até uns paneiros pesadíssimos tem cá fora no poço. O curioso é que nas poucas regatas em que o Paulo tem participado até agora, já começou a ganhar notoriedade na classe em que compete e os resultados são mais que prometedores deixando a concorrência algo apreensiva!
Fotos minhas, do José Carlos Prista e da net.

Fonte: João Carioca

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